O Vento

Recordei-me de uma situação recente a qual fui colocada a prova, onde alguém me disse para fechar os olhos, e para ouvir o que estava a minha volta, essa pessoa disse-me:

- Diz-me ou que ouves.

Eu parei por uns minutos naquele silêncio e ouvi o vento, assim respondi:

-Ouço o vento!

A pessoa Voltou a dizer-me:- Não! Diz-me o que ouves, não podes ouvir só o vento, presta atenção.

Novamente fechei os olhos e tentei perceber o que mais ouvia, respondendo da mesma forma. A pessoa voltou a dizer-me não! Tu és uma rapariga inteligente, não me estás a dar a resposta da forma correcta:

- Diz-me o que ouves.

Eu mais uma vez parei e concentrei-me e senti vários sons, os outros que eu dizia que não ouvia, ouvia o pingar de algo líquido no chão, ouvia o vento soprar de forma diferente e até de quanto em quanto tempo ele soprava de forma mais intensa e menos intensa, até de que lado vinha o som das pingas que caiam no chão, respondi e disse tudo o que ouvia, a pessoa disse-me vês, é por isto que tu por vezes não vives porque estás demasiado habituada a ver as coisas só de uma forma.



quinta-feira, novembro 26, 2009

"Viver é consumir-se de amor, dialogar, perder-se nos outros. A vida é a interpenetração total das almas e das inteligências."

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca